Existe intervenção para TDAH além da medicamentosa?
- Debora Fernandes
- 4 de abr.
- 3 min de leitura
O uso de medicação para TDAH é uma prática comum e sempre é manejado por um médico, normalmente, psiquiatra, neurologista ou neuropsiquiatra. A medicação pode ser recomendada em casos moderados e graves. Quando há uma boa adaptação ao medicamento sem colaterais que tragam muito prejuízo para a vida da pessoa, os resultados costumam ser muito bons e aliviam ou mesmo resolvem vários prejuízos que permeiam a vida da pessoa.
No entanto, apenas a medicação pode não ser suficiente, devido à vários fatores. Muitas vezes, a pessoa precisa desenvolver estratégias cognitivas ou comportamentais para rotina de estudo, realização de provas, tarefas, situações mais complexas de trabalho, organização de vida ou rotina, enfim, atividades de qualquer tipo.
As intervenções psicoterapêuticas para TDAH dependem dos processos que falham e continuarão sendo difíceis para a pessoa, mesmo com o uso da medicação. Para tal, é importante uma avaliação bem detalhada do funcionamento executivo da pessoa para compreender quais processos ou comportamentos precisam sofrer intervenções específicas. Essa avaliação pode ocorrer no contexto da psicoterapia ou pode ser realizada uma avaliação neuropsicológica específica para TDAH. De qualquer forma, é muito importante que a profissional saiba onde estão as falhas executivas para que as intervenções sejam precisas e eficazes.
Dicas gerais para TDAH ou estratégias externas ou artificiais podem ter pouco ou nenhum efeito terapêutico se elas não forem direcionadas especificamente para os processos que estão falhando e aplicadas no contexto adequado do paciente e da forma adequada para essa pessoa. É muito comum que situações prévias precisem ser resolvidas ou melhor elaboradas antes de aplicar uma estratégia específica, para que esta seja realmente eficaz e não apenas “jogada” para o paciente. É trabalho da profissional compreender quais estratégias o paciente terá condições de seguir a cabo naquele momento do tratamento ou se algumas mudanças prévias precisam ser realizadas antes.
Infelizmente, o tratamento para TDAH não é tão simples como começar usar agenda, post-it, fazer listas e anotar tudo o que precisa fazer para não esquecer. Obviamente, muitas pessoas podem se beneficiar de mudanças simples como estas, mas muitas outras pessoas usarão a agenda por dez dias, outras esquecerão de checar a lista de anotações e outras anotarão parcialmente seus compromissos. Outras pessoas terão dificuldades completamente diferentes a essas e listas e agendas não terão função nenhuma para elas.
São exemplos simples que representam o limite de se trabalhar com recomendações e dicas gerais, quando na verdade, não há um padrão de falha específico do TDAH e sim inúmeras possibilidades de combinações de características cognitivas, comportamentais e emocionais envolvidas no transtorno.
Dessa forma, o tratamento para TDAH pode ser compreendido como uma atuação conjunta do uso da medicação com a psicoterapia. Muitos elementos da psicoterapia serão comuns para pessoas com ou sem TDAH, por exemplo, a necessidade de se trabalhar algumas crenças ou pensamentos disfuncionais da pessoa. Algumas crenças ou pensamentos podem estar relacionados com o TDAH ou com outras questões da vida da pessoa, como situações familiares, mas mesmo neste último caso, muitas vezes, crenças e pensamentos precisam ser flexibilizados antes de que uma intervenção específica possa ser eficaz.
Assim, é preciso ter um cuidado diferente no caso de pacientes com o diagnóstico, já que elementos específicos do TDAH devem ser inseridos no tratamento psicoterápico. Quer dizer, as intervenções cognitivas são fundamentais, mas talvez não sejam suficientes em pessoas com TDAH. Elas podem ocorrer antes, durante ou após o emprego de alguma estratégia específica de TDAH, ou mesmo, podem ser condição necessária para que tal emprego funcione.
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